Aparelhos portáteis de música digital podem prejudicar a audição

Problemas de audição deixaram de ser exclusividade dos idosos. Com a moda dos aparelhos portáteis de música digital, os jovens também estão no grupo de risco. Compactos e potentes, os fones de ouvido podem causar lesões se forem usados de forma incorreta. A seguir, o otorrinolaringologista Jamal Azzam explica a melhor maneira de curtir um som sem agredir a audição.

De que maneira o som prejudica o ouvido?

O som mexe a membrana do tímpano, que mexe os ossinhos internos e empurra um líquido pra dentro. Esse líquido, quando se movimenta, estimula células que tem uma espécie de cílios. Se o som vem muito forte, os ossinhos vão empurrar com muita força o líquido, e essa força extrema vai levar à lesão.

A nomenclatura do ouvido mudou?

Estamos acostumados a falar ouvido, mas o nome mudou. Agora é orelha. Nós temos a orelha externa, a orelha média e a orelha interna. Um dos motivos desta mudança é que, quando a gente fala ouvido, a gente está referindo-se a ouvir, mas na verdade, a orelha é responsável tanto pela audição quanto pelo equilíbrio. O equilíbrio e a audição estão ligados de tal forma que a pessoa que tem problema de audição pode ter problema no labirinto. O contrário também acontece: quem tem labirintite pode desenvolver problema na audição também.

Quanto maiores o volume e o tempo de exposição ao som, maior a chance de lesão?

As pessoas tem sensibilidades diferentes. A sensibilidade é genética. Existem pessoas mais sensíveis ao som. No trânsito intenso, o volume é de aproximadamente 85 decibéis. É muito alto! Para se ter uma idéia, se você estiver próximo a uma turbina de avião, o ruído é de 30 decibéis. Os aparelhos de som portáteis chegam a quase 120 decibéis. Então, o nível de intensidade sonora é muito alto. De acordo com pesquisas, a 85 decibéis a pessoa pode se expor até 8 horas seguidas, por dia. O ouvido precisa descansar entre as intensidades de ruído. A 100 decibéis, só pode ficar 1 hora. Em termos de sensibilidade, de 85 decibéis para 100 decibéis, a diferença é muito grande. Um estudo de uma universidade americana aponta que, se você ouvir música na intensidade máxima do aparelho, você poderá ouvir no máximo durante cinco minutos.

Normalmente, as pessoas escutam música alto durante muito mais tempo.

Aí é que está o problema. Nós temos dados que mostram que 20,5% dos jovens brasileiros entre 13 e 23 anos têm algum tipo de lesão auditiva. Estão perdendo a audição muito cedo. Os jovens vão ficar com problemas de audição antes de seus avós. Os números são alarmantes. A perda auditiva afeta 10% da população mundial. Naturalmente que não são todos problemas induzidos por causa dos aparelhos portáteis. Esse número mostra o quanto é prejudicial a lesão induzida por ruído.

O tipo de fone tem alguma influência?

A rigor, não. Mas os piores são aqueles que cobrem a orelha e isolam o ambiente externo.

Por que é importante os pais estarem atentos e orientarem os filhos quanto ao volume dos aparelhos portáteis de música digital?

Com lesões auditivas, não se brinca. As lesões, quando ocorrem, são definitivas. Uma das características mais importantes das lesões auditivas induzidas por ruído é que elas ocorrem em frequência muito agudas que normalmente nós não usamos no nosso dia a dia e essas lesões são cumulativas. Hoje, a pessoa não sente nada, mas elas estão acontecendo e se somando. Quando interferir na audição, o dano será irreversível. As lesões acontecem no nervo auditivo e não há tratamento específico para cura e reversão das lesões auditivas. Uma vez que houve a lesão auditiva, não há forma nenhuma de reversão.

Quais as dicas para ouvir música com segurança?

Um estudo pesquisou várias marcas de aparelhos portáteis; todos são muito semelhantes do ponto de vista da saída de nível de intensidade sonora. Se você colocar em 70% do volume total, você pode ouvir com segurança por até 4 horas e meia, lembrando que a sensibilidade individual está em jogo e nós não sabemos quem é mais ou menos sensível. Eu, pessoalmente, sugiro que a pessoa ouça com volume menor que 70% da capacidade do aparelho durante essas 4 horas e meia para ter uma margem de segurança.

Tem como reconhecer o exagero?

As pessoas que se expõem a ruídos muito intensos e por tempos prolongados nem sempre sentem. Algumas pessoas sentem um zumbido, um chiado, um pouco de tontura. Mas a perda auditiva, a pessoa não sente. O melhor é sempre prevenir. Recomendo que essas pessoas procurem um médico otorrinolaringologista para examinar a orelha e fazer um exame de audiometria (que mede a audição). Através da audiometria, podemos detectar se já existe a lesão ou não. Se não existe a lesão, vamos evitar que ela apareça. Se ela já existe, vamos evitar a progressão.

A lesão auditiva pode regredir com tratamento?

A lesão estaciona, mas não regride. Importante lembrar que uma lesão não passa para a outra orelha.

Existe tratamento para quem já perdeu a audição?

Não dá para operar. Para a lesão auditiva induzida por ruído, não tem cirurgia. Aparelhos auditivos até podem ajudar, mas as adaptações de aparelhos auditivos nos indivíduos que têm esse tipo de lesão são muito difíceis. Em qualquer sintoma, consulte um médico otorrinolaringologista. É necessário que os pais orientem seus filhos. É necessário que toda sociedade faça isso também.

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Dr. Jamal Azzam

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DR. JAMAL S. AZZAM

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Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1986 e especialista em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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