Quadro é mais intenso em cidades grandes como São Paulo, já que a poluição agrava a reação alérgica.
Mexer em casacos guardados ou armários fechados há muito tempo pode abrir portas para reações incômodas no nariz, como coceira intensa e espirros. Tais sintomas, se persistentes, caracterizam um quadro de rinite. A condição pode até parecer inofensiva, mas especialistas alertam que, se não tratada, a rinite pode desencadear quadros mais graves e preocupantes.
A rinite é um processo inflamatório no nariz, explica o médico otorrinolaringologista Jamal Azzam. “Quando desencadeada, a inflamação cursa com espirros, coceira no nariz, bastante coriza, nariz entupido e, frequentemente, conjuntivite alérgica, que é quando os olhos ficam vermelhos também”, diz.
De acordo com Marcello Bossois, médico alergologista e coordenador do projeto Brasil Sem Alergia, há diferentes tipos de rinite. Ela pode ser causada pelo contato com algum poluente, o que a classifica como rinite irritativa; pelo aumento da pressão arterial ou uso de medicamentos vasoconstritores, que gera a rinite vasomotora; ou até por questões hormonais e de idade.
Entre os tipos, a rinite alérgica é a que mais acomete a população brasileira, diz o alergologista. Ela caracteriza-se por uma resposta inflamatória do nariz a alérgenos do ambiente, como poeira, ácaro, mofo, pólen e pêlos de animais.
“Cerca de 35% da população tem algum quadro de alergia e esse número acaba aumentando bastante principalmente em pessoas que vivem em grandes cidades. Nesses locais, há um número maior de alérgenos e a própria poluição aumenta o potencial do alérgeno, além de ter uma ação irritativa no organismo”, explica Bossois.
Segundo o médico, em cidades do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento do pólen não é tão significativo clinicamente para o quadro. Muitas pessoas afirmam que, com a primavera, a propagação do pólen pode aumentar a rinite, mas o alergologista diz que essa afirmação faz mais sentido em cidades do Sul ou da região serrana, como a de Campos do Jordão (181 km de SP).
“O que mais acomete a população brasileira são os ácaros, um aracnídeo microscópico que se alimenta de queratina. No caso do ser humano, ele alimenta-se de pele descamada, cuja principal fonte são os colchões e travesseiros”, esclarece Bossois.
Os especialistas reforçam a importância do diagnóstico médico e tratamento para a rinite. “O nariz é a porção mais externa do pulmão, metaforicamente falando. Boa parte das doenças pulmonares alérgicas começam no nariz”, defende o coordenador do Brasil Sem Alergia.
É a chamada marcha do alérgeno. “De uma rinite isolada, vira uma sinusite. O acúmulo de secreção nos seios da face causado pela sinusite, gera o gotejamento de substâncias inflamadas e infectadas no pulmão, o que leva a um quadro de asma”, relata Bossois.
Ainda segundo o alergologista, as secreções também acabam sendo deglutidas e podem fazer o paciente desenvolver um quadro de gastrite crônica ou doença do refluxo gastroesofágico.
“Um paciente com sintomas de rinite isolada não deve subestimar essa condição clínica e deve iniciar logo o tratamento”, argumenta.
O otorrinolaringologista Jamal Azzam acrescenta que sinusite, laringite, faringite e pneumonia também estão entre as complicações. “A orientação é procurar o médico em caso de persistência de sintomas ou crises muito intensas e repetidas”, diz.
Lavagem nasal e controle ambiental são fundamentais
No tratamento da rinite, controlar aspectos do ambiente que podem intensificar ou causar o quadro é um dos pontos essenciais, defendem os médicos.
Para o alergologista Marcelo Bossois, usar plástico, napa ou camadas de toalhas para forrar colchões e travesseiros é uma das principais recomendações. “A primeira coisa que você tem que fazer é criar essa barreira impermeável para fazer com que a pele descamada não sirva de alimento para o ácaro”, explica.
O profissional também recomenda não utilizar produtos químicos com cheiro muito forte na limpeza da casa, como desinfetantes, água sanitária e até mesmo amaciantes de roupa.
Jamal Azzam, otorrinolaringologista, indica que a pessoa se desfaça ou higienize bem outros possíveis estímulos alérgicos, como cortinas, carpete, bichos de pelúcia, travesseiros com penas de ganso ou madeiras ripadas, que acumulam poeira.
“O quarto de dormir é o local que deve ser motivo de maior preocupação e zelo, porque é onde ficamos mais tempo parados”, argumenta Azzam. Ele relembra que pêlos de cachorro e gato podem estimular as alergias da mesma maneira.
Lavar o nariz pelo menos duas vezes ao dia é, hoje, um método científico de prevenção de crises de rinite e atenuação de eventuais crises, recomenda o médico. “O uso contínuo e prolongado de soro fisiológico para limpeza do nariz é a primeira medida medicamentosa, porque o soro limpa as impurezas e diminui o tempo de contato delas com a mucosa nasal”, diz Azzam.
Caso essas ações não sejam suficientes, o tratamento da rinite também inclui medicamentos antialérgicos, corticóides e descongestionantes. Segundo o otorrinolaringologista, em alguns casos onde há alterações anatômicas no nariz, pode ser necessária uma cirurgia para aliviar os sintomas e tratar o quadro.
O que é? Processo inflamatório do nariz (rino = nariz / ite = inflamação)
Alguns tipos de rinite:
Rinite alérgica:
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associada a uma resposta a alérgenos do ambiente, como poeira, ácaro, mofo, pólen, pêlos de animais
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é a que mais acomete a população brasileira
Rinite irritativa:
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ocorre ao entrar em contato com algum poluente ou produto químico
Rinite vasomotora:
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ocorre pelo aumento da pressão arterial, pela hiper-responsividade da mucosa nasal ou pelo uso de remédios vasoconstritores nasais
Rinite hormonal:
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causada por alterações hormonais
Sintomas:
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Coceira no nariz
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Espirros constantes
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Nariz entupido
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Coceira nos olhos/conjuntivite alérgica
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Diminuição do olfato
Possíveis consequências de uma rinite não tratada:
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Laringite
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Faringite
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Bronquite
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Sinusite
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Pneumonia
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Asma
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Gastrite
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Doença do refluxo gastroesofágico
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Dermatite atópica
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Apneia obstrutiva do sono
Modalidades de tratamento:
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Lavagem nasal
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Controle do ambiente respiratório*
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Medicamentos (antialérgicos, corticóides, descongestionantes)
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Imunoterapia (uso de vacinas)
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Cirurgia (casos em que houver alterações anatômicas)
*Cuidados preventivos com o ambiente:
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Forrar colchões e travesseiros com material impermeável
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Lavar cortinas, lençóis, toalhas e fronhas com frequência
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Evitar ter bichos de pelúcia
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Evitar usar produtos químicos com cheiro forte
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Ventilar os ambientes
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Manter a casa sempre limpa
Fontes: Jamal Azzam, médico otorrinolaringologista; Marcello Bossois, médico alergologista e coordenador do projeto Brasil Sem Alergia.