Quem não ouviu falar da rinite alérgica? Impossível, pelo menos nas grandes cidades do mundo todo.
Ora, afinal de contas, aquelas crises de espirros que não acabam – 5 ou 10 seguidos –, aquela coceira terrível no nariz e “aquele resfriado que não passa nunca” são situações bem comuns e acometem todas as faixas etárias, desde bebês bem pequeninos até os idosos.
O Brasil é considerado um dos países com maiores taxas mundiais de prevalência de rinite e Asma.Um amplo estudo mostrou que a prevalência média dos sintomas relacionados à rinite alérgica chega a 29,6% dos adolescentes no Brasil. Nas grandes capitais, onde a poluição atmosférica é grande e as mudanças de temperatura são constantes, este percentual pode chegar a quase 50% de toda a população! Estes dados por si só já podem sugerir que a rinite alérgica seja um problema de saúde pública.
Outro fator intensamente estudado e bastante importante é a associação da rinite alérgica com a Asma.Sabemos que cerca de 80 % dos pacientes que tem Asma tem também a rinite alérgica associada.E o que é pior: a rinite alérgica é um fator de piora da Asma, tanto nas crises agudas quanto nos tratamentos de longo prazo.
Certamente podemos dizer que a rinite alérgica é a doença mais comum das afecções crônicas das vias respiratórias. Saiba agora se você ou alguém de sua família tem rinite alérgica. Abaixo cito os sintomas mais comuns:
• nariz entupido constantemente, principalmente na hora de dormir, podendo levar a roncos;
• nariz escorrendo o tempo todo: aquela coriza bem clarinha, parecendo uma “água quente” que sai do nariz sem parar.Alguns pacientes tem a terrível situação de começar com coriza intensa somente durante as alimentações, ou seja, começou a comer, começou o nariz a escorrer;
• coceira no nariz, fazendo com que algumas pessoas tenham até uma marca na pele do dorso nasal de tanto coçar o nariz;
• espirros bem frequentes, que podem ser em crises de vários espirros seguidos, ou várias vezes durante o dia;
• no geral, parece que é um “resfriado que não passa nunca”.
As complicações da rinite alérgica são diversas e todas implicam em graves consequências para a saúde:
• sinusites de repetição: o paciente com rinite alérgica tem muito mais crises de sinusites agudas, com secreção nasal amarelada em grande quantidade, dor de cabeça, mal estar importante, febre etc.Também a incidência de sinusite crônica em pacientes com rinite alérgica é bastante alta.
• dores de cabeça constantes, principalmente na testa e nos maxilares;
• complicações dentárias: a arcada dentária sofre muito com a obstrução nasal crônica, típica da maioria dos pacientes com rinite alérgica.Dormir de boca aberta constantemente leva a alterações no crescimento do palato (céu da boca), podendo fazer com que os dentes entortem muito.Os tratamentos com aparelhos ortodônticos na maioria das vezes não surtem os resultados esperados e pior, muitos pacientes que usaram aparelhos ortodônticos durante anos, quando tiram o aparelho, a arcada dentária entorta tudo de novo…
• as alterações do palato, além dos problemas dentários, levam frequentemente a um desvio no septo do nariz, piorando ainda mais a obstrução nasal, principalmente em crianças em fase de crescimento;
• problemas na garganta: a respiração pela boca faz com que o ar respirado seja seco e não esteja aquecido.Isto pode levar ou piorar os problemas nas amígdalas, que podem ter infecções repetidas ou até inflamações constantes.A garganta e a boca ficam secas, gerando um desconforto bastante grande.Aumenta também a incidência de faringites e laringites;
• complicações nos ouvidos: a grande maioria das otites médias agudas iniciam-se com um quadro de obstrução nasal, tanto em crianças quanto em adultos.Especialmente nas crianças, pode acontecer um grave problema na comunicação entre o nariz e os ouvidos, levando à obstrução da tuba auditiva.Isto reflete em uma situação chamada de “otite serosa”, conhecida também como “catarro nos ouvidos”.Cursa com dores intensas eventuais, diminuição da audição e riscos de lesões na membrana do tímpano, que podem ser até definitivas.A perda auditiva pode levar a mau rendimento escolar, sendo que frequentemente a criança é rotulada de “distraída”, quando na verdade não está escutando bem;
• repulsa à prática de atividades físicas: o paciente não respira bem e o fôlego fica curto.O cansaço é muito maior que dos outros e o desânimo começa a ser tão intenso e constante que a maioria acaba deixando de praticar esportes.Uma situação bastante grave, principalmente sabendo-se que o índice de obesidade infantil é cada vez maior em nosso país;
• prejuízo na qualidade de vida: cansaços mais frequentes, andar com um lenço o tempo todo, espirrar várias vezes durante uma sessão de cinema ou em uma reunião, voz anasalada constantemente, sendo que as pessoas perguntam o tempo todo: “você está resfriado?”, levando a constrangimentos que chateiam bastante.
O diagnóstico da rinite alérgica pode ser feito pelo médico Otorrinolaringologista baseando-se principalmente no quadro clínico e no exame físico do paciente.A história clínica do paciente com rinite alérgica é bastante típica e ajuda muito nas conclusões finais.
Vários exames complementares podem ser pedidos, como um exame de endoscopia do nariz (nasofibroscopia), radiografias, tomografias computadorizadas, ressonância nuclear magnética, exames de sangue, exame da secreção nasal (citologia), testes cutâneos para alergias etc.
Então, o que fazer para tratar esta situação tão comum em crianças e adultos?
Inicialmente cabem as medidas gerais.Sabendo-se que os estímulos externos ao nosso sistema respiratório são os principais fatores desencadeantes das crises, devemos tomar os seguintes cuidados:
• a maior preocupação deve ser com o quarto de dormir: este deve ter uma limpeza impecável.Afinal, passamos cerca de 8 horas dormindo, ou seja, algo como um terço de nossa vida toda!Certamente é o lugar em que mais ficamos parados por tanto tempo.Ainda mais dormindo, quando o metabolismo está bem diminuído e o corpo mais sensível aos processos inflamatórios;
• evitar o cigarro, sendo este o pior poluente doméstico;
• ventilar bem os ambientes, nunca deixando a casa sempre fechada;
• ventilar sempre os armários e as roupas, nunca deixando com que fiquem “com cheiro de roupa guardada”.Exponha as roupas menos usadas ao sol;
• evitar o mofo e umidade nas paredes ou móveis.Não deixe vazamentos de água ou do telhado que mantenham umidade constante.Isto predispõe ao crescimento dos fungos e ácaros, os principais inimigos da rinite alérgica;
• evitar morar em casa muito fria, principalmente se não bate sol;
• evitar a poeira de quaisquer formas;
• evitar bichos de pelúcia, tapetes, carpete, cortinas, móveis ou enfeites que juntam pó;
• evitar cheiros fortes como desinfetantes, cheiro de tinta fresca, inseticidas;
• evitar perfumes fortes e produtos químicos para tratamentos de beleza, especialmente dos cabelos;
• não usar espanador de pó, dando sempre a preferência a panos úmidos ou aspiradores de pó;
• não deixar os bichos de estimação ficarem nos sofás, na cama e evitar muito contato direto com eles.Se for possível escolher, dê preferência aos que não soltam muitos pêlos;
• cuidado especial com os colchões e principalmente debaixo do colchão, que é um lugar de muito acúmulo de poeira;
• dê preferência a edredons e não a cobertores, principalmente os de lã que são os piores;
• evite o uso de travesseiros de penas ou plumas, dando preferência aos de poliéster;
• cuidado demais com uso do ar condicionado: ambientes com ar condicionado constante são bastante prejudiciais.O ar condicionado resseca o ar e as mucosas de todo sistema respiratório, além de proliferar bactérias e vírus.Esta situação é bastante pior em prédios sem janelas, com ar condicionado central.Procure também sempre fazer manutenção dos filtros de ar condicionado do seu carro;
• quando for possível, tome muito cuidado com a profissão a ser escolhida: evitar direcionar a vida profissional para atividades como marcenaria, serralheria, obras, pinturas, trabalhos em câmaras geladas, limpeza, profissões que utilizem produtos químicos etc;
• muito cuidado também com os hobbies como pintura de quadros, antiguidades etc;
• evitar também a natação em piscinas com cloro, dando sempre preferência às que utilizam o tratamento da água com ozônio.Muito cuidado também com a friagem ao sair de piscinas aquecidas, pois o choque térmico pode desencadear ou piorar crises.
O tratamento medicamentoso começa sempre pelo uso constante de soro fisiológico no nariz.Pingar ou borrifar soro fisiológico limpa as mucosas e permite que o funcionamento do nariz seja bem mais livre.Deve ser parte da higiene diária de uma pessoa, assim como tomar banho ou escovar os dentes.Ou seja, o paciente alérgico respiratório deve tornar isto parte de sua rotina para a vida toda.
Contamos com diversos grupos medicamentosos como anti-histamínicos, corticóides tópicos, anti-leucotrienos, imunoterapia (vacinas) etc. e devem ser sempre monitorados pelo médico. Diversos medicamentos pode ser utilizados e o arsenal terapêutico atual é bastante moderno e avançado.Esqueça aqueles anti-alérgicos que davam sono o dia todo… hoje tudo mudou.
Naturalmente existem complicações que exigem alguma cirurgia para ajudar no manejo da rinite alérgica.Mas, lembre-se: nenhuma cirurgia cura a rinite alérgica!Mas, certamente cirurgias como de adenoide, desvio de septo, pólipos nasais, conchas nasais hipertrofiadas etc, ajudam muito.Levam a uma melhora da respiração e também da drenagem de secreções.
Conhecer a rinite alérgica e tratar adequadamente vai levar o paciente a uma grande melhora, não somente no seu sistema respiratório, como em toda sua vida!