O tabagismo já não é mais sinônimo de cigarro. Cada vez mais, produtos como o tabaco orgânico, o narguilé e o cigarro eletrônico tomam o lugar dos maços vendidos em padarias e bancas de jornal. Mas só porque estas alternativas não são convencionais, não quer dizer que façam menos mal à saúde.
“Tanto o uso do narguilé quanto o do tabaco decorrem praticamente nos mesmos riscos de quem fuma cigarro: pode causar dependência, levar a doenças cardiovasculares e risco aumentado de câncer”, adverte Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do Hospital Sírio Libanês, a respeito do tabagismo .
Ele lembra também que, apesar da falta de estudos que comprovem os danos dos cigarros eletrônicos, casos de mortes e doenças pulmonares graves dentre os jovens adultos nos EUA – e até mesmo no Brasil – já levantaram suspeitas quanto ao uso desse dispositivo.
E os danos do vício ao fumante não são apenas físicos. Como lembra Luiz Scocca, psiquiatra do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e membro da Associação Americana de Psiquiatria, o cigarro e outros produtos com tabaco também gera uma dependência química difícil de ser superada.
“Estudos mais realísticos mostram que o número de tentativas de parar de fumar pode chegar a dezenas de vezes”, observa, acrescentando também que não há um nível “seguro” para o consumo de tabaco.
Dito isso, é hora de ver quais os principais problemas de saúde que acometem quem fuma cigarros (eletrônicos ou não), narguilés e/ou tabaco orgânico.
Os riscos do tabagismo com cigarro
Os problemas decorrentes do uso de cigarros talvez sejam os mais conhecidos pela população. Embora a taxa de fumantes tenha apresentado queda constante ao longo dos últimos anos, 9,3% da população afirmou ter o hábito de fumar em 2018, segundo o Ministério da Saúde.
Mas só porque menos pessoas estão fumando, isso não significa que os efeitos do cigarro ficam menos nocivos ou que o vício não seja mais um problema. Veja quais os principais riscos trazidos por esse tipo de tabagismo:
• Maior risco de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) – segundo o clínico geral Roberto Debski, isso se deve em grande parte devido à nicotina, que atua como vasoconstritor;
• Risco aumentado de câncer no trato respiratório superior – como lembra Fausto, isso significa que partes do corpo como boca, língua, faringe, laringe e cordas vocais ficam comprometidas no fumante de cigarro;
• Aumento da probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares;
• Quadros agudos e crônicos de rinite alérgica, sinusite, asma, faringite, laringite, rouquidão etc., segundo Jamal Azzam, membro titular da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial;
• Desenvolvimento do vício no tabaco, doença causada em grande parte, segundo Roberto Debski, pela nicotina, mas também por outros dos mais de quatro mil produtos usados para a fabricação do cigarro.
Os riscos do tabagismo com narguilé
Popular entre os mais jovens, o narguilé não só faz mal, como também é ainda mais nocivo que o cigarro convencional. Segundo Franco Martins, pneumologista da Faculdade de Medicina do ABC, uma sessão de 1h com o narguilé equivale a tragar 100 cigarros.
“Quando uma pessoa fuma um cigarro, ela demora, em média, 8 minutos; porém, essa pessoa não fuma o tempo todo. Já com o narguilé, ela fica várias horas fumando”, explica.
No caso do narguilé, o culpado não é apenas o tabaco e sua composição específica para este produto, mas também as essências e o carvão, utilizado para aquecer a mistura.
As essências, segundo Franco, contém metais pesados e substâncias químicas que são evaporadas e vão direto para o pulmão do fumante, causando, junto do tabaco e do carvão, vários problemas de saúde, como os listados abaixo:
• Inflamações das vias aéreas, principalmente devido às essências;
• Queima de células do trato respiratório, relacionada à combustão do carvão;
• Dores de cabeça e alterações vasculares, segundo Roberto Debski;
• Alterações vasculares;
• Falta de ar e crises de bronquite;
• Dores de estômago;
• Risco aumentado de câncer, segundo Fausto Nakandakari.
Segundo Jamal Azzam, porém, os efeitos dos modelos mais novos dos narguilés ainda não são totalmente conhecidos, pois os produtos utilizados são muito diferentes dos antigos e tradicionais.
Mesmo assim, vale ficar de olho, já que, como lembra Roberto, os tabacos utilizados nestes produtos “contém cerca de quatro vezes mais nicotina, onze vezes mais monóxido de carbono e cem vezes mais alcatrão do que o cigarro”.
Os riscos do tabagismo com tabaco orgânico
De todas as formas de tabagismo, a praticada com o tabaco orgânico talvez seja a mais semelhante ao cigarro. Segundo Fausto, os problemas de saúde causados pelos dois são praticamente os mesmos, indo de dependência a doenças respiratórias, cardiovasculares e a diversos tipos de câncer.
No entanto, por não conter filtro – a não ser que se compre um pacote separadamente -, ele pode ser considerado mais prejudicial que o cigarro, de acordo com o otorrinolaringologista.
Os riscos do tabagismo com cigarros eletrônicos
Por fim, os cigarros eletrônicos, que estão cada vez mais populares no Brasil e no mundo, também são, de sua própria forma, nocivos à saúde. Tal e qual o narguilé, a essência usada nos vapes traz danos à saúde do fumante, segundo Franco Martins.
Apesar disso, os reais efeitos destes produtos sobre a saúde dos usuários ainda não são totalmente conhecidos, mesmo que os recentes casos de mortes e doenças respiratórias nos EUA e no Brasil associadas a eles tenham ajudado a levantar suspeitas contra os cigarros eletrônicos.
“Existe unanimidade na classe médica condenando o uso dos cigarros eletrônicos e certamente a correlação com o câncer será brevemente solidificada pela ciência, conforme todos os caminhos dos estudos atuais”, prevê Jamal Azzam.
Portanto, embora seja muito cedo para descrever quais são os verdadeiros danos dos vapes ao organismo, é possível dizer que eles são tão, se não mais, nocivos que os cigarros convencionais – então sempre tenha isso em mente quando pensar em experimentar uma das formas de tabagismo .