Quando o assunto é cirurgia de garganta, imediatamente surgem diversas perguntas:
Ainda se opera a garganta?
Sim, a cirurgia de amígdalas e adenóides ainda é a cirurgia otorrinolaringológica mais realizada no mundo todo. Logicamente, os critérios para indicação da cirurgia são cada vez mais restritos e a cirurgia somente é realizada em casos de extrema necessidade.
Sempre que opera-se a adenóide deve-se operar as amígdalas junto?
Não, a cirurgia pode ser somente da adenóide e não retirar as amígdalas. Nas crianças, quando existe a indicação de cirurgia de amígdalas, geralmente é feita também a cirurgia das adenóides. Nos adultos esta situação não ocorre, ou seja, se a indicação é somente das amígdalas, somente elas são retiradas.
As amígdalas não são defesa do corpo? Então, como pode existir ainda esta cirurgia?
As amígdalas são uma defesa do corpo, incluindo a produção de inúmeros anticorpos. Porém, esta situação somente ocorre com as amígdalas de atividade normal. Quando existe uma desestruturação do órgão ou quando o funcionamento não é normal, então pode-se pensar na cirurgia.
Depois da cirurgia a criança ou adulto começa a ter faringites. Isto é verdade?
Não, este é um mito antigo e totalmente fora da realidade sob o olhar da ciência mundial atual. O que acontece é que muitas crianças ou adultos que tinham faringites antes da cirurgia podem continuar a ter. Mais um motivo de uma ótima avaliação otorrinolaringológica prévia.
Quais as indicações da cirurgia?
As principais indicações para a cirurgia são:
• infecções de repetição: neste caso leva-se em conta não somente o número de infecções, mas também a gravidade delas
• otites crônicas e/ou de repetição: muitas vezes a adenóide crescida leva a obstrução do orifício da tuba auditiva na garganta, levando a otites
• tamanho das amígdalas: se o crescimento das amígdalas atinge um grau que leva a obstrução respiratória, geralmente com a presença de roncos e/ou apnéia do sono
• caseum: são “massinhas brancas” que se acumulam nas amígdalas e podem gerar um incômodo grande, além de mau hálito
• tumores: em alguns casos de suspeita de tumores e/ou com a confirmação através de biópsia
Amígdalas e adenóides grandes podem levar à respiração pela boca?
Sim, a respiração bucal ou respiração oral pode ser causada pela obstrução das amígdalas e adenóides. Neste caso a criança ou o adulto respiram constantemente pela boca, inclusive durante o sono, levando a um incômodo enorme.
Quais as complicações disso?
As complicações da respiração bucal são diversas: alterações craniofaciais, alterações da arcada dentária, ronco e/ou apnéia do sono, sono agitado, babar no travesseiro, déficit de crescimento por alteração na liberação do hormônio do crescimento (GH), boca seca, dificuldades para alimentação etc.
Quais outras complicações de amígdalas e adenóides grandes?
A obstrução não é somente respiratória, mas também para a drenagem das secreções normais do nariz e seios da face. Então, esta obstrução leva à estagnação de secreções, as quais podem infectar, levando à sinusites de repetição e/ou sinusite crônica.
A partir de que idade pode-se operar?
Não existe um número exato para a indicação ou contra-indicação de cirurgia, pois o quadro clínico é o dado mais importante para a decisão. Entretanto, evita-se geralmente a cirurgia das amígdalas antes dos 2 anos. A cirurgia da retirada das adenóides pode ser mais precoce, com casos de indicação a partir de 1 ano de vida.
Adenóide é o que as pessoas chamam de “carne esponjosa”?
Sim, este termo refere-se à adenóide, uma vez que trata-se de um tecido bem mole e facilmente compressível com a mão, parecendo então uma esponja.
A adenóide volta depois da cirurgia?
O risco existe, porém pode ser diminuído quase que totalmente através das técnicas cirúrgicas atuais, com utilização de vídeocirurgia e de microdebridador (shaver), além de cautérios especiais e a coagulação por plasma.
Opera-se somente crianças ou adultos também?
Opera-se tanto adultos quanto crianças. A proporção é muito maior de crianças.
Que tipo de anestesia é feita?
A anestesia é geral a qual é realizada após um extenso protocolo de segurança internacional. Avaliação clínica prévia e exames complementares, além da visita pré-anestésica e a utilização de um centro cirúrgico com equipamentos de ponta levam a um índice de segurança muito elevado.
A alta é no mesmo dia ou no dia seguinte?
Costumo dar alta para as crianças no mesmo dia e os adultos dormem a primeira noite no hospital, recebendo alta no dia seguinte de manhã.
Como é o pós-operatório?
O pós-operatório é bastante difícil, porém muito rápido. Nos primeiros dias existe dor de garganta, variável de paciente para paciente, porém geralmente pior nos adultos. A alimentação deve ser de consistência mole e gelada. Aí é a grande alegria da criançada: bastante sorvete! E dos adultos também!
Existem remédios para controlar a dor?
Inúmeros remédios costumam ser prescritos para amenizar bastante a dor. Lembrando-se que a cirurgia é extremamente comum e que a dor passa logo, então a dor fica sendo um fator temporário e o benefício da cirurgia definitivo.
É verdade que o adulto sofre mais no pós-operatório?
Sim, geralmente ocorre isto devido ao fato das amígdalas estarem mais aderidas na cápsula e a retirada exigir mais manipulação. Também costuma haver a necessidade de mais pontos para a hemostasia (fazer parar de sangrar).
É verdade que no pós-operatório o paciente tem que tomar muito sorvete? Isso ainda é verdade? Por que isto?
Sim, como eu disse acima, o sorvete é a vedete do pós-operatório! O sorvete é gelado, fazendo como uma “compressa fria dentro da garganta”. Ele é composto por leite, o que alimenta e é mole, o que facilita engolir. Além do que fica na memória das crianças que operaram: com o passar dos anos esquecem a dor, mas não esquecem que tomaram muito sorvete. Ou seja, perfeito!
Quais os riscos desta cirurgia?
Existem riscos anestésicos, riscos cirúrgicos intra-operatórios e pós-operatórios.
Os riscos anestésicos podem ser de diversas formas e níveis de gravidade, desde alergias, complicações pulmonares ou cardiológicas e risco de morte. Obviamente estes riscos existem para tudo na vida. No caso da anestesia, levando-se em conta uma criança ou indivíduo normal, todos os exames prévios normais, avaliação pré-anestésica no dia da cirurgia normal, então o risco passa a ser um “risco de catástrofe”.
Os riscos intra-operatórios são basicamente de sangramento excessivo. Nesta caso, busca-se estancar o sangramento através de pontos, cauterizações e o uso de produtos hemostáticos. A utilização do vídeo costuma ser decisiva para a rápida e eficiente solução desta complicação.
No pós-operatório o risco é basicamente também de sangramento e pode levar a necessidade de reoperação, muitas vezes de forma emergencial.
Existem tratamentos clínicos que podem evitar a cirurgia?
Sim, diversos tratamentos clínicos podem e devem ser realizados. Utilizamos antialérgicos, anti-inflamatórios, sprays nasais etc. Somente no caso da ausência de resultado é que indica-se a cirurgia.
O pediatra não permite a cirurgia. O que fazer então?
O médico pediatra é o profissional que deve dar a sua opinião e contribuir para o bem estar da criança. Em havendo divergência inicial nas opiniões, o ideal é a conversa entre o pediatra e o otorrinolaringologista para que ambos cheguem à decisão final mais adequada, através da troca de informações e experiências, sempre adequando-se especificamente a cada caso.
É verdade que depois da cirurgia a criança engorda?
O aumento de peso pode sim acontecer e geralmente ocorre porque a criança não alimentava-se bem antes da cirurgia e muitas vezes estava abaixo da curva de crescimento. Então a recuperação do peso ocorre de forma espetacular, sendo que em 3 a 4 meses depois da cirurgia a criança pode voltar ao normal da curva de crescimento.
A cirurgia pode ajudar no tratamento dentário ortodôntico?
Sim, uma vez que a respiração bucal prejudica muito o desenvolvimento normal da arcada dentária. Na grande maioria das vezes a cirurgia para a desobstrução respiratória deve inclusive preceder ao início do tratamento ortodôntico.
É necessário tratamento de fonoaudiologia após a cirurgia?
Raramente pode haver a necessidade de tratamento fonoaudiológico, uma vez que muitas crianças não voltam a respirar pelo nariz, mesmo tendo um nariz totalmente livre. São casos de respiração bucal viciosa.