A natureza do ser humano criou o nariz para inúmeras funções, entre elas, o olfato, a passagem de ar, a drenagem de secreções do nariz e dos seios da face, proteção contra corpos estranhos, umedecimento e aquecimento do ar inspirado, etc.
Muitas vezes nem percebemos que todas estas importantes atividades estão sendo feitas em frações de segundos. O ato automático de respirar é tão vital e absolutamente rotineiro que simplesmente “esquecemos” que estamos respirando.
Agora, vamos imaginar o seguinte cenário: alguém que por qualquer motivo respira pela boca desde bem pequeno. Esta pessoa já se acostumou a respirar assim e nem percebe que está com um processo errado de respiração. Certamente, ao ser questionada se respira bem, a pessoa responde imediatamente que “sim”. Mas, a Medicina sabe muito bem que falta de respiração pelo nariz pode trazer inúmeras consequências negativas, muito além do que se pode imaginar.
As principais causas de respiração bucal em crianças e adultos são: hipertrofia das adenoides (popularmente chamada de “carne esponjosa”), hipertrofia das amígdalas, rinite alérgica, desvios de septo nasal, aumento das conchas nasais, pólipos nasais, entre várias outras.
Quando a respiração é pela boca existe um ressecamento da garganta e tendência a mais inflamações. Com a persistência em longo prazo, pode ocorrer aumento progressivo do tamanho das amígdalas, pois estas estruturas não suportam bem sua superfície seca. Fica comum a pessoa acordar várias vezes durante a noite para tomar água, de tanto que sente a garganta seca. Ou então, logo que acorda corre para hidratar-se o quanto antes. Também, a mecânica óssea e articular da boca aberta durante o sono predispõe a uma situação bem constrangedora: o ronco. Isso se a situação não se complica até com uma doença bem complicada: a apneia do sono.
O bloqueio do nariz também leva a piora da rinite alérgica e sinusites de repetição, uma vez que a dificuldade de drenagem das secreções normais leva a uma estagnação destas e uma grande chance de infecção. Também com relação ao nariz, muitos resfriados ou gripes, que teriam uma duração normal de 3 a 5 dias, passam a ser bem mais prolongados e com muito mais complicações. Isto ocorre também pela dificuldade de saída da coriza, em cuja crise fica rica em vírus e bactérias. Mais uma vez, não existindo o processo normal de limpeza da cavidade do nariz, então todo processo fica mais difícil de ser eliminado pelo corpo.
Existe uma tendência no respirador bucal de alterações na arcada dentária e até a elevação céu da boca, levando ao que chamamos de “palato ogival”. Podem acontecer alterações de toda a conformação do rosto, levando ao que chamamos de “face de respirador bucal”. Estudos mostram que corrigir a respiração errada antes dos quatro anos leva a uma maior chance de correção espontânea destas alterações, portanto levando a muito menos tratamentos posteriores, como dentários e ortodônticos. Em alguns casos de respiradores bucais crônicos, a articulação têmporo-mandibular (ATM) pode sofrer muito, levando a dores e dificuldade da abertura de boca.
Quando o paciente tem bronquite ou asma, respirar pela boca piora muito as crises ou estas tem o seus tratamentos dificultados, pois o ar não passa pelo nariz e, portanto não chega preparado adequadamente nos pulmões. Estes precisam que o ar chegue úmido e aquecido para a troca gasosa normal, na qual o oxigênio entra no corpo e o gás carbônico sai.
Os ouvidos também chegam a ser vítimas de um nariz entupido cronicamente: pode ocorrer um tipo de inflamação chamada de “otite serosa” ou “otite secretora”, na qual existe um catarro retido no ouvido devido à má comunicação com o nariz. Isto pode levar a dores súbitas e fugazes nos ouvidos, diminuição leve a moderada da audição e até otites médias agudas, que são bastante dolorosas. Ocorre mais comumente em crianças, mas muitos adultos experimentam esta terrível situação. Muitos pacientes se queixam da sensação constante ou frequente de “estar descendo a serra”.
Enfim, deu para perceber que o nariz é muito mais importante do que somente para apoiar os óculos. Cuide bem dele e em caso de dúvidas, consulte sempre um médico otorrinolaringologista.